um dia estava na expo, à espera das 3 da tarde, que abrisse a loja aonde ia tentar impingir umas cozinhas ou uns móveis de banho. olhei para o chão de repente e vi uma bolota. o puto das botas diárias todas gastas, das calças de bombazina com joelheiras de napa, camisola de lã feita pela mãe e camisa com colarinhos tipo asa de avião faria o quê com aquela bolota??
uns pontapés, umas fintas à chalana e um golaço à tamagnini néné?
ná
o puto gostava muito de bola e do benfas mas não era muito de jogar à bola.
era capaz de ficar tempos em cima de uma cama com uma data de livros, com uma flauta a tocar de ouvido canções alentejanas, da missa e das cassetes de música brasileira que o pen fried da mana lhe mandava do brasil. coitada da mãe do puto, ficava com a cabeça em água com aquela apitadeira irritante(quando começou a dar na televisão os jovens heróis de shaolin, eram horas e horas a tocar a mesma voisa em eltos berros, enquanto lia ao mesmo tempo os majores alvega que o tio eduardo lhe dava).
pois, a bolota
lembrei
cortava.lhe um bocadinho da parte de cima, espetava.lhe um fósforo lá dentro(daqueles amorfos que vinham numas caixinhas com próverbios colados) e fazia uma pioga. uma pioga é uma coisa que parece não ter piada nenhuma, que só roda roda e depois pára.
nada
o puto via a pioga rodar e rodava com ela; tal como as nuvens fazem imagens esquisitas no céu, ele era capaz de ver ali cenas dos livros que lia, dos filmes que via na televisão philips a preto e branco, era capaz de fechar os olhos e voar com a pioga a sítios aonde nunca tinha ido, de que ouvia falar e de que lhe contavam histórias, era capaz de ir até até aos sonhos mais loucos e bonitos, era capaz de tudo!!!
a pioga transformava.se naquelas máquinas de teletransporte da galática e ele ia para onde queria, assim de repente, só com um piscar de olhos...